domingo, 23 de janeiro de 2011

Tementes a Assuero


Hoje passei a manhã carregando sacos de ração para cães e gatos, carregando de lá pra cá pelo Rio de Janeiro... penitência? não, mobilização pelos animais que foram afetados pelas chuvas na região serrana...


Acabei de dividir o momento obscessivo com minha amiga Adriane, que também dorme e acorda pensando no que fazer pelas pessoas e bichos que foram afetados, comentamos que realmente é muito louco se envolver com tudo isso...


Pensei, nossa, como somos boas pessoas e emocionalmente disponíveis para salvar o mundo...


Nada disso queridos amigos, somos tementes a Assuero (registraê, esse vai ser o nome da minha banda de rock)....


Tio Assuero Antônio era tio do encontro de adolescentes e jovens que frequentei... hoje toma conta das coisas lá no outro lado, enfim, saudade muito grande...


Ele tinha uns 3 metros de altura, uma voz que te fazia tremer, andava pra lá e pra cá com calça jeans, camiseta e uma camisa jeans de botão toda aberta por cima, carregando uma prancheta...


Isso numa época em que se usava mimeógrafo, não havia e-mail, msn, sms... tudo era decidido em reuniões, e ele sabia de tudo o que acontecia, anotava tudo na sua prancheta...


Ele era sinistro... até hoje ando na linha por medo de tomar esporro dele na reunião de avaliação, onde ele sentava com sua prancheta, e se chamasse seu nome, abaixasse os óculos e lesse algo naquele papel, você podia dizer que estava ferrado....


Ele sabia de tudo... tenho pra mim que ele era um viajante do tempo, e aquela prancheta era um Ipad de onde ele via tudo, tinha câmeras na casa de cada um de nós e em cada canto do colégio e da Igreja, e do Teatro e do refeitório.....


Uma vez eu não tocava na Banda, e queria assistir a Oração da Noite, uma meditação dentro da Igreja onde apenas algumas pessoas podiam entrar pra não ficar um caos... aí, um outro tio me deixou entrar escondida com uma amiga (desculpa tio João), e nós ficamos na parte de cima da Igreja deitadas no chão apenas ouvindo.....


No dia seguinte, de manhã, passei pelo Tio Assuero e ouvi "bonito, hein... deitada no chão da Igreja escondida.." gelei, vi minha vida diante dos meus olhos...como ele podia ter visto naquele escuro se estava do outro lado do colégio?


De acordo com minha educação católica quando eu morrer vou enfrentar um julgamento e tal... na hora em que São Pedro levantar e falar "chamem a testemunha Tio Assuero", sei que estarei perdida porque aquela prancheta nunca vai me deixar escapar...


É isso... tá explicado... é medo, mesmo... eu sigo o que ele ensinava, entre várias besteiras, ele me ensinou a ser solidária... ele era um piadista, e na verdade só encarávamos as reuniões de avalição porque estar por perto das piadas internas que ele criava era o máximo.... sacaneava tudo e todos, embora não perdesse a pose......inclusive sou hilária porque segui a "Escola Assuero de Stand Up Comedy".....


Queria mandar um beijo pra todos os amigos que já dividiram qualquer equipe comigo, e a todos que estão nessa loucura de vida, e a todos aqueles amigosque já estão do outro lado nos protegendo e nos guiando... e vamos seguir ajudando, porque tem muita gente precisando...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Meu abrigo em Tiradentes


Hoje é dia 20 de janeiro... estou no quarto de uma pousada simples em Tiradentes. Tudo que preciso está aqui neste quarto comigo. Uma mala com roupas, água e lanche para nossas próximas refeições. A bolsinha com nossas coisas de viagem, que vai nos manter limpos e saudáveis pelos próximos dias. Outra bolsa com remédios de "primeiro socorros".


Somos sortudos, eu, meu marido e meu filho: nosso cachorro está com a gente. Ele tem água e ração para esses próximos dias. Na bolsa ele tem até mesmo o remédio que que toma para aliviar a dor que às vezes sente na pata traseira direita.


Estou muito feliz, porque está uma noite linda e quente, e temos um ventilador para refrescar e dormir melhor. Somos muito sortudos, temos nossos documentos, temos até a máquina fotográfica onde registramos nossas memórias.


Nesse nosso abrigo temos roupa de cama limpa, espaço para ajeitar tudo o que trouxemos.


São 23:25. Dormi lá pelas 20:00, e agora escrevo. Dormi mais do que nesses últimos dias, quando acordava de madrugada para revirar armários, tendo sempre a sorte de poder encontrar o que doar para outros abrigos humanos e animais.


A dona da pousada, após meu pedido de usar o computador para saber notícias do Rio, perguntou se eu me incomodava de levar doações. Tem muita roupa de cama, mesa e banho aqui, ela disse, que eu guardo para ajeitar, mas quero doar. Agradeci mais uma vez, porque nesse meu abrigo temporário tenho solidariedade de desconhecidos.


Tive um sonho com meu filho, um sonho psicodélico onde voávamos num cavalo... isso porque antes de dormir havíamos tido uma conversa sobre não fazer birra, e pra tentar botar ordem na casa, ameacei de não levá-lo para andar a cavalo se não se comportasse. Quando acordei vi meu filho do meu lado, sorrindo enquanto dormia, suado. Aqui no nosso abrigo eu posso educar meu filho com tranquilidade, posso sonhar e acordar feliz.


Nesse quarto, tenho tudo o que preciso, sou uma sobrevivente da vida, com muita sorte, e nunca rezei tanto para agradecer por isso. Nessa viagem tenho tudo que amo comigo, e é por isso que rezo para que essa noite, em todos os quartos e abrigos, todos possam dormir em paz.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

doações, e ponto.

Achei minha chave de casa... pronto, agora só falta achar o juízo que perdi tocando violão numa banda lá por 1992...

Minha sala é o abrigo das doações que chegam, que separo e distribuo e entrego conforme sei quem tá indo pra onde, quem precisa mais do quê... como estou "de repouso" e não posso me enfiar num abrigo para ajudar, aqui cuido em pensamento, procurando como agir....

Perdi a chave de casa Domingo, tinha certeza que tinha caído dentro de algumas sacolas, e eu teria sido xingada por um voluntário cansado: "P#rra, não tem o que mandar, não manda"....

Num dia enchi o carro de coisas e antes de entrar descobri que a chave do carro tinha sumido... "P#rra, São Longuinho, me poupe da gracinha"... depois de mobilizar Jane, porteiros e Bernardo (achando muita graça), vi que estava no porta malas, e pude seguir meu rumo...

Na porta da Pet Shop páro meu carro com muito cuidado, dando espaço para as pessoas poderem passar pela calçada. Aí chega um coroa de bermuda florida, óculos de sol, greycin2000 no cabelo, e me encara... eu, como sou educada, pergunto gentilmente: "O Sr. quer que eu chegue um pouco pra trás, não vou demorar, é só entregar essas doações"... percebo que as pessoas já estão olhando e rindo... ele responde: "Aqui não é lugar de parar carro", e não sai do lugar com seu cabelo gosmento brilhando...eu: "Meu senhor, tens cachorro? tens MÂE na região serrana?"... entregadores da Pet Shop, uma moça com carrinho de bebê aplaudem, ele sai de leve e some na rua da esquina, onde morei metade da minha vida.... adoro gente solidária...

Abro meus e-mails na esperança de saber notícias de amigos, de saber onde posso ajudar, e vejo 391 mensagens de sites de compra coletiva... abrace comigo a campanha "Valeu, Peixe Urbano já tô Gostosa", ou "Não F#de, Save Me, não vou pagar 500 reais pra tirar celulite enquanto tem bicho e gente morrendo de fome"...

Desculpem os palavrões, mas seriam necessários muito mais... tem BBB rolando...tem um transexual, uma negra, um branco chato que dança, um negro gay, pessoas avulsas... que nem na região serrana... Abrace a campanha "P#rra, Boninho, bota esse povo pra carregar caminhão de doação a madrugada inteira na prova do líder"... ou "Não F#de, Globo, bota cada participante pra encher 500 garrafas PET de água pra mandar pro abrigo de animais"....

meu novo lema é "quem nunca viu guerra faz firula"...

Tenho várias causas, pouco tempo e muita aflição... etiqueto material escolar do Bernardo, que pega tudo que é sacola dentro de casa perguntando "mãe, é doação pra quem? gente ou cachorro?"... e quem me conhece sabe como tem sacola pela minha casa....

Vou a Tiradentes amanhã, volto sábado... preciso dar um tempo nessa agonia... fui no Guanabara hoje cedo, comprar coisas para a viagem... eu caminhava lentamente pelos corredores muito vazios, em parte cansada, em parte desorientada porque tinha esquecido a lista em casa...

aí seguia pegando apenas o necessário, porque pensar na necessidade urgente de quem está lá faz a gente ficar agoniado...aí entrei no corredor das bebidas e pensei: "podia levar um vinho pra tomar na pousada", e fiquei ali olhando, parada, cansada e imaginando o que havia na lista de compras que estava o tempo todo no meu bolso, de sacanagem com a minha cara...

cheguei a colocar umas Ice no carrinho, mas devolvi... lembrei que antibiótico + comida mineira + Ice = Aninha de Fralda (esse post não tá fácil)....

quando viro pro lado, uma velhinha me olha com muita pena... me encara mesmo... pensei "Ferrou, saí com soutien pra fora da roupa"...... aí ela olhava pra mim, olhava pras bebidas e aquela cara de pena, porque pra ela eu devia ser a Heleninha Roittman resistindo bravamente diante do corredor de bebidas... eu desviei o olhar, porque achei que ela viesse me abraçar ou dizer que eu devia ter força em Jesus, sei lá....

foram muitas doações, conversas, correrias... descobri que meu cachorro é mais conhecido que eu no meu prédio... ele é o "Digby, aquele cachorro gigante"... e eu sou "aquela moça do cachorro gigante que mora no oitavo andar".....

quero muito que os amigos que me troxeram risadas esses dias sintam-se muito abraçados, porque não foi fácil pra ninguém...

beijos, e lembrem-se, com a mudança astrológica e as precisões de Nostradamus: essa semana foi feriado de Martin Luther King nos Estados Unidos... tem que ver isso aí.....

Let´s march......

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Natal e Ano Novo no sítio


Esse ano não tivemos muitas emoções no nosso tempo no sítio.... ok, apareceu uma iguana enorme, ficamos chocados... Bruno quase desmaiou (desculpa, falei)


Mas estava tão ligada no 220V com Bernardo, que não percebi muita coisa passando por mim... não pude filosofar...


Tivemos um jantar de Natal, Papai Noel deixou presentes e café da manhã, piquenique no jardim dia 26 pra comemorar o aniversário de Bernardo, crise dele chorando perguntando porque tinha que vir embora.......


depois voltamos pro Ano Novo, comemoramos dia 31 com nossa tradição milenar de jantar macarrão com salsicha, Bernardo usou pijamas iguais ao do pai e ficava gritando "equipe!!" o tempo inteiro, até agora não descobrimos porque...


sabe o que me impressiona em passar datas festivas no sítio? é que a natureza te filtra.... enquanto muita gente está surtada atrás de tender com farofa, a gente chega e se impressiona com as plantas que cresceram, com o tamanho das árvores que plantamos ano passado...


quero dizer, vejam bem, nada contra "tender com farofa", mas vamos usá-lo como uma metáfora para todas aquelas coisas que a gente se vê obrigado a fazer no Natal sem se perguntar porque, saca? fila de shopping, caos no supermercado, comprar um monte de castanhas que sempre sobram, comer fio de ovos, comprar presente pra parente chato, entrar no amigo oculto da "firma" e ter que aturar confraternizações muito cansativas, entrar em crise pra ver quem vai almoçar aonde dia 25, quem leva a rabanada...


nós colocamos luzinhas natalinas, enfeites feitos pelo Bernardo, claro, tradição e divertimento é com a gente mesmo...


e no ano novo a mesma coisa: árvores não se preocupam em qual festa badalada passar a virada... novamente, uma metáfora (até porque, como Hannah, também gostaria de ter o melhor de dois mundos, mas deixa pra lá)...


não precisa comprar uma roupa branca na liquidação da C&A pra estourar a Sidra na praia, enfrentar gente chata bêbada, ver o show da virada......


quero dizer, todas essas coisas são muito legais quando você faz porque quer, porque é divertido... e o final de ano traz umas obrigações tão chatas, que a gente se esquece a real razão da nossa felicidade: o 13ºsalário, digo, Jesus e a Paz no Mundo.....


esse ano eu até que me vendi a sociedade capitalista e fui tirar foto com a árvore de Natal da Lagoa!!! mas o melhor foi Bernardo: "vamos ver a árvore, que legal, que legal".... enfrentamos fila pra estacionar, aquela confusão e tudo... ele olhou pra árvore e suas luzes, falou "caramba" umas 30 vezes, pediu biscoito globo, tirou foto com cara de quem tava pagando mico e do nada falou: "é só isso?"...... "vamos embora porque tá ficando chato"...


enfim, acompanhar a natureza te traz a sensação de que o tempo tá passando sim, mas ele não precisa ser necessariamente ser regido por coisas externas, eventos e obrigações....


cara, totalmente "na rua, na chuva, na fazenda" esse post, hein.....
acima nossa árvore de Natal gigante!!

Ana e Hannah


No mês de dezembro eu descobri Hannah Montana... já conhecia as músicas, afinal tenho primas pequenas, e já tinha visto um ou dois episódios....


mas Bernardo tá viciado em algumas séries do Disney Channel, entre elas, Hannah Montana, que está em sua última temporada... e neste final de ano eu assisti a quase todos os episódios com ele...


pra quem não sabe Hannah Montana é uma pop star internacional, adolescente, que mora com seu pai, irmão e melhor amiga, e a trama consiste em isso tudo ser um grande segredo... ou seja, na vida real ela é Miley Cyrus, e do nada coloca uma peruca loira, sobe no palco e vira diva.... o slogan do seriado e nome da música da abertura é "The Best of Both Worlds"... ou seja, a menina tem o melhor de dois mundos, ser uma adolescente comum com seus amigos na escola e ser uma pop star teen...


vou dizer que achava isso pouco construtivo... pensava que a estória incentivaria as crianças a quererem sempre a parte mais fácil de cada coisa, de não enfrentar a realidade dura que vem por trás das escolhas....


neste mês em que acompanhei a vida de Hannah como Miley prestes a decidir pra qual Universidade ir, como lidar com seus amigos e namorados, vi que a série era sobre exatamente o oposto... ao ter o "melhor de dois mundos", ela tinha que enfrentar as consequências disso, e nada era tão cor de rosa quanto as mochilas que vendiam com o rosto dela estampado...


na verdade ela tinha consciência de que algumas vezes era egoísta com os amigos que sabiam de seu segredo e a ajudavam (tudo bem, é só uma peruca, como ninguém percebia nada, mas enfim, Disney é Disney)....


sentia falta do Tennesse, local onde nasceu, ao escolher viver no glamour de Malibu...


queria ter seu cavalo Blue Jeans morando com ela numa casa de praia, e viu que não dava pra ter tudo que se quer, é preciso escolher...


ao ter 2 mundos, ela tinha sempre 2 questões.... tinha o melhor, mas tinha dupla responsabilidade, dupla jornada (tipo mãe que trabalha e cuida de filho)....


sei lá... esse é o ano da Hannah... Bernardo morre de rir com ela e diz que eu sou a cara da Miley porque sou "atrapalhada"... ele adora minha dublagem de Hannah (preciso de uma peruca loira pra melhorar o show)...


aliás no dia em que assistimos o episódio em que ela revela o segredo, eu devia ter filmado a tensão de Bernardo, foi hilária... só faltou chorar de agonia, dizia, "mãe, ela não pode contar, ela não pode tirar a peruca"... fofo...


ganhei (mentira, comprei pra mim mesma) duas Barbies, uma Miley e uma Hannah (como a série tá acabando tava muito barato, o mundo capitalista é cruel).... tudo bem, eu tive infância, mas e daí? podia ter comprado uma roupa de griffe, um sapato estiloso, mas quis uma boneca.....2, na verdade......


e hoje nessa vida corrida em que cada minuto parece ser decisivo, filho, cachorro, crises existenciais, procuro parar e pensar: "o que faria Miley?"... sim, porque ela tem um ótimo senso de humor, ri de si mesma e nunca leva muita coisa a sério (também, com dupla personalidade a coitada ia estar entrando e saindo de "rehabs" por aí)...


ok, um post pra justificar que o material escolar que comprei, conforme dito em outro post, foi todo da Hannah Montana.


Feliz 2011. "Obrigada, amo vocês!"