segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Itatiaia, madrugada 1



4 e meia da manhã.

       Acordo sem sono. Ao meu lado Bernardo dorme, ronca, se vira, se joga em cima de mim. Estou sem sono, tensa com mosquitos (hoje em dia estou com trauma laboral, pra mim tudo é Aedes Aegypti).

      Levanto e baixa um caboclo arrumador, que separa roupas sujas, caixas vazias de toddynho, prepara roupas limpas para que a próxima manhã seja de maior calmaria... afinal todo aquele processo diário de “acordar-escovar os dentes-colocar uma roupa-tomar café” pode se tornar uma tragédia grega a qualquer instante.

       O fato é que nessa minha vida de andar por esse país pra ver se um dia descanso feliz, vim parar num bucólico hotel em Itatiaia com Bernardo. Sozinha. Sem sinal de celular e sem wi-fi no chalé. Praticamente Lost. Aliás, “descanso” é palavra que parece não se encaixar bem.

       Ontem pegamos nossa mala “gigante” (beijos, mãe), e partimos para a rodoviária Novo Rio pegar um ônibus até Itatiaia. Adorei, o ônibus é novinho, mega confortável. Mas com a companhia de uma criança de 5 anos tudo chega num nível mais difícil do vídeo game. Ele resolveu fazer o Forrest Gump e não parou de falar um minuto. Eu fotografei estradas para distrair (aliás, a visão de um ônibus, de cima, faz fotos incríveis – não que alguém se importe com isso, porque não conheço ninguém que tenha como hobby fotografar estradas enquanto viaja como eu).

       O hotel é legal, tem uma piscina natural (gelada pacas) e uma aquecida (tipo sauninha baby), ou seja, você nessa bipolaridade térmica até desmaiar ou pegar um resfriado.

      Tem um “mini-museu”, pois o hotel é de 1931. Fiquei encantada com um cartão de Natal de 1944, ano em que meu pai nasceu. Bernardo, óbvio, queria entender porque queria tirar uma foto daquele papel. Tentei explicar, mas não rolou. Perguntei em que ano ele tinha nascido, ele disse “6?”, sem prestar atenção na pergunta. Depois falei que na data em que aquele cartão foi escrito, o avô tinha alguns dias de vida. Zero de emoção.

      O que ele gostou foi de ver a réplica de um quarto da década de 30, mas ficou chocado com o pouco espaço e perguntou onde as pessoas colocavam as coisas. Falei que na época elas não carregavam malas gigantes (beijo, mãe).

      De noite o salão do jantar estava todo lindo, iluminado com velas. Não lembro a última vez em que vi um restaurante tão lindo e fofo. Sentamos, e Bernardo teve uma crise de simpatia perguntando o nome de todos os garçons, agitado, e eu com medo que ele derrubasse o castiçal e a gente incendiasse um Parque Nacional de bobeira.

       Vamos ao menu... entrada: Sopa de Abóbora. Ele ADORA abóbora, mas disse que não ia comer. Ele tomava sopa de abóbora direto na escola, mas disse que odiava. Tirei algumas fotos da cara da pessoa enquanto tapava o nariz, ficava vesgo tipo Zacarias, tudo para enfatizar que odiava aquela sopa.

      Eu, enquanto mãe preocupada com o futuro nutricional do meu filho, ainda coloquei batata e cenoura no meu prato de sopa, e disse que era a sopa maluca da Rainha Branca (da Alice do País das Maravilhas). Ele ameaçou chorar...eu pedi ajuda aos deuses.

      Depois de uns dez minutos, convenci que colocar o arroz na sopa seria legal (eu adoro), e então disse que se ele demorasse muito os talheres iam começar a cantar igual na Bela e a Fera, reclamando que ele estava demorando. Ele riu e pediu para eu imitar o Lumiére... com sotaque francês...nesse ponto minha dignidade e paciência já haviam terminado de jantar e ido pro salão de jogos curtir uma sinuquinha.

     Ao fim de tudo, ele comeu a sopa. E um pouquinho de arroz com cenoura. Eu nem lembro como saí do restaurante (teriam chamado a SAMU?).

     E sabe o que mehor? Meu lado Nicholas Marshal achava que eu iria relaxar num hotel com pensão completa, que eu iria ficar mais tranquila que nas aventuras de Tiradentes.

    Sério... mães são tão iludidas.

Um comentário:

  1. KKK Adorei saber que isso também acontece com outras mães! Alívio de não estar sozinha.

    ResponderExcluir